No tempo das máquinas de escrever
Em 1932, quando o então denominado Tribunal Regional de Justiça Eleitoral foi instalado no edifício da antiga Câmara Estadual, na Praça da República (atual Praça Afonso Arinos), não havia mobiliário e nem equipamentos disponíveis para os poucos servidores, funcionários do Estado. Também faltavam papéis, lápis e canetas-tinteiro. Bens permanentes e de consumo precisavam ser adquiridos e era a Secretaria de Viação e Interior a responsável por fornecer esses itens à Justiça Eleitoral mineira.
Além do mobiliário e outros itens necessários ao funcionamento da Secretaria e dos cartórios eleitorais, o Governo Estadual adquiriu máquinas de escrever Remington modelo 12, que, fabricadas a partir de 1922, foram utilizadas no TRE-MG até a década de 1950.
Eram em número reduzido e nem todos os servidores tinham acesso às máquinas de escrever, mas provavelmente foram bem utilizadas na Seção de Taquigrafia, onde, a partir de 1949, passaram a atuar os taquígrafos Giovanni Gazzinelli e Edméa de Carvalho, dois colegas que, após terem sido aprovados no primeiro concurso público realizado pelo Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais e convivido por alguns meses na seção, casaram-se e tiveram quatro filhos. Giovanni permaneceu apenas por dois anos na Justiça Eleitoral, tendo-se formado em Medicina e vivido uma longa e sólida carreira como Professor da Universidade Federal de Minas Gerais na área da Bioquímica e da Imunologia, integrando ainda a Academia Brasileira de Ciências. Edméa de Carvalho Gazzinelli permaneceu na Secretaria do Tribunal até se aposentar, em 1979.
Curiosidades sobre as máquinas de escrever
O Século XIX marcou o início do sucesso das máquinas de escrever, mas a história desse revolucionário equipamento tem suas raízes ainda em 1575, quando o italiano Francesco Rampazetto inventou uma máquina para imprimir cartas em papéis.
Ao longo dos séculos foram vários os modelos apresentados por inventores de diversas nacionalidades, incluindo um brasileiro – o tipógrafo paraibano Padre Francisco João de Azevedo, em 1861 – muitos deles objetivando facilitar a escrita para pessoas com dificuldades visuais. A impressão de letras em papéis sem a necessidade da tinta das canetas também apresentava a vantagem de evitar rasuras e/ou falsificações.
Em 1868, porém, coube à empresa Remington and Sons – com sede em Nova York e já conhecida na época por sua fabricação de armas e de máquinas de costura – a compra da patente e a produção das typewritter, a partir de um protótipo funcional criado pelo relojoeiro e maquinista Matthias Schwalbach.
A máquina de escrever da Remington utilizava o teclado QWERTY, modelo que passou a ser adotado por outros fabricantes e que é usado até hoje nos teclados de computador dos países ocidentais. Naquela época, porém, as máquinas de escrever não permitiam ao datilógrafo visualizar os caracteres à medida em que eram impressos, porque as barras dos tipos eram acionadas para cima.
O modelo 12 da Remington, fabricado a partir de 1922, solucionou esse problema e tornou-se o mais popular de sua época e um dos mais esperados pelos compradores, não apenas porque permitia ao usuário visualizar as letras durante a datilografia, mas, principalmente, em razão de dois grandes e terríveis eventos que marcaram o período entre 1914 e 1923 – a Primeira Guerra Mundial e a Gripe Espanhola.
É que os navios mercantes tiveram suas rotas reduzidas durante a guerra e permaneceram praticamente parados durante a Gripe Espanhola, uma vez que foram reconhecidos como os maiores difusores do vírus Influenza, que dizimou milhares de pessoas na Europa e nas Américas.
Como o comércio marítimo só retomou sua normalidade após o arrefecimento da Gripe Espanhola, por volta de 1922, as máquinas de escrever encomendadas para o Brasil somente começaram a chegar por volta de 1924.
Berenice Sobral
Seção de Memória Eleitoral
23 de outubro de 2023